sábado, 28 de maio de 2016

"Am I the only one I know. Waging my wars behind my face and above my throat"


Lutava uma batalha que não parecia ter fim e a exaustão estava me deixando sem forças para continuar tal conflito. Já sabia quem ia ganhar e, dessa vez, não seria eu. Alguém achou que era importante para o fortalecimento da minha pessoa passar por tal provação. Quem realmente se importa com isso?

Estava em uma floresta antiga, rodeada por árvores mais velhas que meus ancestrais e sendo observada por animais mais vividos que eu. Com certeza presenciaram momentos tão importantes quanto aquele em que, sem querer, me fiz questão de colocar.

Eu sabia que era um sonho desde o momento em que notei a estrada de barro e a vegetação. Jamais pararia ali por vontade própria. Vou ser sincera. O que denunciou tudo foi a garota parada na minha frente com cara de dona do mundo: eu mesma.

É, fui clonada. Péssimo para o mundo. Logo cheguei a brilhantíssima conclusão de que estava ferrada.  Não sei duelar com a minha versão convencida da vida, ela ganha sempre. Gosta de criar um caos e depois sumir para observar de longe os cacos que preciso colar. Para deixar o diálogo que aconteceu mais simples de entender, temos a Idiota (eu) e a Doida (ela).

Doida: "Olha quem decidiu dar as caras por aqui!"

Idiota: "Eu estou resolvendo meus problemas. Tem como desaparecer pro seu cantinho? Não estava sentindo sua falta."

Doida: "Está mesmo? Ou você está varrendo eles para debaixo do tapetinho como sempre? Louca para evitar umas encrencas. Saiba que o seu tapete já está parecendo uma corcunda de camelo."

Idiota: "Talvez eu ainda esteja tentando resolver as merdas criadas por você da última vez."

Doida: "Merdas? Eu sou você, nua e crua. Transparente e tentando ligar o gatilho da sua felicidade."

Idiota: "Parece que estou feliz agora? Seu timing é a coisa mais errada que eu já conheci."

Doida: "Será? Pode ser que sim, pode ser que não. Da forma que eu vi, você precisava de um pouquinho mais de emoção."

Idiota: "Rimas a essa hora? Me poupe. Eu só queria me resolver. Andar tranquilamente..."

Doida: "Na favela onde eu nasci..."

Idiota: "PARE! Isso não é uma brincadeira. Você parece não se importar com nada!"

Doida: "Vou te contar um segredo. Acho que você vem pensando demais, e nós duas sabemos que sua cabecinha entra em pane quando isso acontece. Não foi do nada que eu apareci, certo? Diferente do que saiu da sua boca, eu me importo com tudo, só que espero viver sem preocupações e de forma relaxada. Ao contrário de você, que parece uma velha chata e rabugenta. Se filtrando a cada segundo."

Idiota: "Você é inconsequente! Não pensa nos rastros que deixa. As angústias que preciso enfrentar".

Doida: "Ai, fala sério! Eu sou você, só que completa. Me incomoda te ver agindo desse jeitinho".

Idiota: "VOCÊ ME DEIXOU DEVASTADA! Cheia de inseguranças, com medo de dar novos passos, refletindo sobre tudo que podia estar errado comigo."

E ela sorriu debochadamente para mim, apontou aquele dedo na minha cara e abriu os braços como uma louca.

Doida: "Te dei uma coisa que você não lembrava que existia há anos. Te dei motivos para continuar tentando. Te dei vontade de escrever novamente. Estou te devolvendo sua intensidade. Viva, mergulhe, não deixe passar uma oportunidade.  Sabe-se lá quando, e se, ela volta. Quebre a cara e exiba esse seu sorriso bobo e imperfeito, mas cheio de garra! Mostra que ninguém consegue te parar e que quando você quer algo, você vai atrás."

Foi quando eu comecei a perceber que era uma luta perdida, suas palavras começavam a entrar dentro de mim.

Doida: "Que tal se eu te der espaço para se encontrar e se renovar? Vou te devolver aquele medo gostoso, cheio de uma adrenalina extasiante que você não consegue ficar sem."

As palavras foram o suficiente para eu apenas entregá-la tudo. Ela era manipuladora. Sabia usar as palavras certas para me convencer e eu caía em seu joguinho mais uma vez.

A situação ficou ainda mais crítica quando as peças finalmente se encaixaram. Eu sabia quem era quem naquela estrada, não tinha uma idiota e muito menos uma doida. Eu era minha atormentada mente e ela, meu traiçoeiro coração.

Já não estava mais no comando. Com ela no jogo, tudo mudava. Ela acabara de aplicar seu golpe e eu me vi morta. Que complicado.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Detox da Alma

Direto ao assunto, sem delongas e sem caô.

Entre trancos e barrancos consegui dormir essa noite e, consequentemente, acordei com nenhuma disposição de levantar da proteção que minha cama, meu travesseiro e cobertor ofereciam a meu corpo. Como ainda não criaram um lençol para a mente, a mesma decidiu começar a trabalhar ativamente.

Foi assim que em meio a um turbilhão de pensamentos sobre tudo e nada, me perdi em mim. E que experiência gloriosa e extraordinária que eu presenciei hoje. Foi diferente de tudo que eu já vivi. As lágrimas caíam sem piedade, com um tom de alegria por ter relembrado a mim, da pessoa que eu sou e que vem se redescobrindo a cada dia.

Ganho nuances novas a cada segundo vivido, resgato outras esquecidas em um canto escuro da cabeça um pouco remendada, mas que precisam estar comigo. E o principal: jogo fora aquelas que não me contribuem em mais nada. Foi assim que Desintoxicação e Mudança se destacaram em meio de frases distorcidas e complicadas.

Fácil é falar, o difícil é realmente colocar em prática os planos que borbulhavam desenfreadamente dentro, agora, do meu peito. Que tal começar do básico?

Olhei para o objeto com quem vivo uma relação de ódio e amor, o celular. Observo o Wallpaper da tela de desbloqueio e de dentro. Adeus, Rapunzel, mas eu não sou mais você faz muito tempo. Não preciso de resgate alheio, consigo ser minha própria heroína. Claro que vou tropeçar, errar, me ferrar, mergulhar de corpo e alma e sofrer, mas pô!

Eu também tenho a chave para resolver, aprender, sorrir e dar um murro nos males que vierem pela frente. Tudo é uma lição. E foi assim que decidi também me afastar de quem em nada contribui para meu crescimento como pessoa e, convenhamos, será que eu contribuo no delas também?

Talvez alguns estejam apenas me envenenando aos poucos e eu não esteja percebendo. Talvez eu esteja me distanciando sem perceber, ou quem sabe, querendo, de outros. Desculpa, mas sabe o que é? Não consigo mais ficar num lugar cheio de gente sentindo que estou só. Aí pensa aqui comigo: para que deixar as paradas desconfortáveis, não é mesmo?

Foi então que decidi levantar da cama e me olhar no espelho. Está tudo ruim. Que expressão é essa? Quando foi que a máscara voltou? E sabe o que aconteceu?

Eu abri o sorriso mais estúpido que eu consigo dar e soltei uma gargalhada que estava sufocada dentro de mim faz tempos. Eu consigo resolver isso tudo. Sozinha? Não preciso. Eu tenho tanta gente ao meu redor querendo meu bem, que não faz sentido eu negar a mão que me oferecem. Se organizar direitinho, todo mundo se ajuda.


Sabe o que é? Alguns estão me ajudando sem nem perceber faz muito tempo e toda aquela angústia que habita meu ser vem diminuindo num ritmo tão acelerado que estou extasiada. O problema é estar propensa a me ferrar com mais facilidade, mas quem nunca, né? Vai que aprendo alguma lição para desintoxicar minha alma mais um pouco e a vida está cheia de tanto 7x1 que cabe a cada um de nós perceber o que está rolando para melhorarmos como indivíduos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Éramos 7 num carro muito doido
Esse texto pode parecer fútil para alguns, mas não é. Se quiser perder seu tempo lendo, você entenderá. Talvez essa tenha sido a forma que encontrei para falar das muitas despedidas que tive em minha vida e, principalmente, no último ano.

A verdade é que me apego a tudo e a todos e dar adeus não é uma tarefa fácil para mim. De uma ideia a um objeto ou a uma pessoa, a única coisa que muda é o quão rápido eu supero essa despedida. Pode ser 5 segundos, 5 minutos, 5 horas, 5 semanas, 5 meses, 5 anos...

Minha última despedida foi o carro da família – faz 1 semana - que ao meu ver possui uma história muito rica porque eu cresci com ele. Não conseguirei transmitir todo o sentimento que tenho por ele e muito menos revelar seus segredos e memórias por completo.

Último dia ao lado do carro mencionado ao longo do texto
Em 1998 minha tia comprou um carro que atendesse não só aos desejos dela como também se ajustasse ao tamanho de nossa família com 7 integrantes. Acabamos com um Caravan da Chrysler, um carro enorme, superconfortável e de 7 lugares. Com pouco esforço, e ainda tendo espaço de sobra, davam 9 pessoas.

Partimos em nossas tradicionais viagens em família agora com muita confusão, amor e espaço para todo mundo. Uma de nossas maiores tradições eram as camisas idênticas para todos: não interessava onde, sempre tirávamos uma foto com nossas blusas. Infelizmente meu avô não aproveitou o carro por muito tempo já que em dezembro de 1998 ele veio a falecer.

Todos fofinhos e com blusas iguais na primeira foto
Os anos se passaram e eu continuei dos 7 aos 24 anos na cozinha do automóvel. A cozinha era o último banco do Caravan e passei grande parte do meu tempo deitada nele dormindo ou no chão refletindo a vida. Se eu não estava dormindo estava fazendo farofa e planejando festas - não tão - surpresas, amigos ocultos e afins.

Lembro de passar pelos amigos do colégio e minha tia dar carona a eles sem menor problema. Bem, ela parava quando já tinha criança demais fazendo barulho. Foi nessa época, eu com meus 8 anos, que comecei o discurso: “Quando a validade do carro acabar você, eu posso ficar com ele?”.

Com o passar dos anos as viagens familiares diminuíram até chegar ao ponto de não mais acontecerem. Minha tia-avó passou a andar com dificuldade e da bengala, a qual ela relutou a usar, ela passou para a cadeira de roda, novamente cheia de implicância, e por fim ficou na cama até falecer em março de 2014.

Minha tia não conseguiu lidar bem e ficou sem falar comigo por um tempo até conseguir se recompor do luto. O carro... Ele se tornou apenas um mero acessório empoeirado na garagem.

Em julho de 2014 mais uma integrante da família acabou deixando esse plano, dessa vez a esposa do meu tio-avô. Vivi muitos momentos de brincadeira com ela.

Ah, o carro... ainda encostado lá e raramente saindo de sua vaga.

Em setembro de 2014 comecei a autoescola porque em algum caso de emergência alguém além de minha tia teria que dirigir o carro. A validade dele já tinha passado e fiquei anos implorando para ela esperar até eu tirar a carteira para trocá-lo. Precisava dirigir o carro da minha infância ao menos uma vez.

O carro dessas fotos é apenas o carro que a família teve até 97. Fomos felizes nele também. Eu vivia na mala.
No começo de novembro de 2014 minha vó, depois de 47 anos no Rio, decidiu voltar para Teresina, no Piauí. Acho que ela está bem apesar de ter ido arrumar confusão com a família dela no outro lado do Brasil.

Enquanto isso, eu me esforcei e passei de primeira na prova da autoescola e em dezembro peguei minha Carteira de Habilitação. Fiquei empolgada para dirigir o carro da minha tia, mas travei ao realizar que aprendi num Fox manual e compacto e eu teria que dirigir um carro gigante e automático. Não fiz prova para isso!

Deu tudo certo. Foi lindo, mas minha tia dirigindo ele era ainda melhor. Dirigi uma segunda vez e nunca mais toquei nele. Minha tia mesmo não queria mais sair nele, ela não se sentia mais confiante no carro, como se uma energia ruim estivesse ali.

Alguns meses depois, precisamente semana passada, vi o carro que me deu inúmeras memórias indo embora. Aos mesmo tempo em que comecei a ver minha família diminuindo, eu percebi que me afastava dele.

Uma família zoeira e muito feliz
Parece que o símbolo de união da minha família como 7 integrantes já não tinha mais sentido para estar entre nós. Porque foi isso que senti. A despedida desse carro nada mais é que uma ênfase no passar do tempo e na desintegração da família que eu costumo chamar de minha.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Desabafo de uma junkie


Pensei mais do que deveria em como começar esse texto. Eu acho que depois que você passa 14 anos pensando nisso, não importa mais como começar e sim que você apenas consiga escrevê-lo. 

Problemas no paraíso

Eu tenho um problema. Queria poder escrever que uso drogas abusivamente - na verdade não queria, muitos sofrem por causa disso e não é uma brincadeira - porque a sociedade está mais 'preparada' a ajudar esse tipo de situação do que a minha, mas não é o caso. 

Pode não parecer nada, mas uma noite de insônia para mim é um prato cheio de tortura, autocontrole e reflexão extrema da vida de tal forma que nenhum ser humano deveria fazer de uma vez só. Sério, façam isso apenas em doses homeopáticas, jamais pensem tudo ao mesmo tempo, dá uma sobrecarga desagradável.

O dia seguinte dessa noite sem dormir se reflete mais rápido do gosto de processar. É um lixo para mim, resistir à tentação de fazer mais, sentir a adrenalina correndo pelas minhas veias, lidar com a hiperatividade, e perceber que nada mais sou além de outra junkie numa geração cheia de pessoas viciadas em suas próprias drogas: trabalho, estudo, sexo, jogos, bebidas, tecnologia.

Aceito o mais fácil

Não sou melhor, não sou pior que ninguém e quero que me digam quem tem o poder de me julgar. Estariam certas as crianças do meu colégio que se achavam melhor que os outros e por isso viam como o bullying a forma certa de extravasar para longe de seus próprios problemas pessoais?

E até as pessoas que não sabem lidar com o diferente em seu dia a dia e consequentemente analisam os outros de cima a baixo criando suas próprias teorias? Ou estamos um pouco longe da tal mensagem que o Glee tentou passar ou as pessoas querem aceitar apenas o que elas colocaram na cota delas. 

Mascarando a depressão

Mas sei lá, eu já tentei parar tantas vezes e fracassei tantas quantas tentei que a máxima 'tudo depende da minha própria vontade' já ficou saturada. Tive muitos altos e baixos, tanto que uma época tenebrosa é conhecida por mim como os Tempos Escuros. Acho que nunca fui tão falsa comigo e com os outros quanto nessa época.

As pessoas não entendem hoje em dia, imagine então há uns 8 anos, quando eu falo que tenho depressão. (Vamos abrir um parênteses aqui: Olá, só porque tenho não preciso ficar anunciando e me comportando da forma que você espera). Eu apenas era boa - ou eu achava que era - em colocar uma máscara e fingir que estava tudo bem, tudo lindo, feliz e que nada no mundo podia acabar com meu sorriso amarelinho. Foi nessa época que criei uma armadura e comecei a passar a imagem de durona - ainda faço isso -, mas quem me conhece sabe que nem sou.

Não estava bem, era ruim, muito complicado, na verdade, porque quando eu voltava para casa eu já era uma pessoa diferente. Tentei me matar três vezes, deixei minha família em pânico. Não queria chamar atenção como alguns adoram falar, apenas terminar com meu problema da forma que eu achava que ia dar paz para mim e a minha família. Não deu certo - estou aqui criando coragem e escrevendo esse desabafo - e eu cresci para nunca mais pensar em tirar a minha vida. Coloquei em minha cabeça que ou eu conviveria com meu problema ou tentaria resolvê-lo. Morrer significaria que eu estava me entregando de fato a ele.

Sempre tive ajuda de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. Mas nunca consegui ser 100% honesta sobre tudo, precisava embelezar algumas coisas. Meu grande erro, claro. Nunca consegui me abrir por completo sobre isso com meu amigos, não queria - não quero, não gosto e me sinto mal - em incomoda-los com meus problemas. Não falo com minha família sobre o assunto, quando você passa sua adolescência ouvindo: "Você faz isso porque gosta. Por que você não para com isso, não vê que eu estou morrendo?", não tem muita brecha ai para diálogo sincero que não acontecia nem em consultório.

Agora vai!

Foi quando ano passado eu, acidentalmente, encontrei uma fonte de ajuda forte. Tudo bem que entrei anonimamente, ninguém exige que você diga quem é. E percebi que do outro lado do mundo existem pessoas passando pelas mesmas situações que eu, que de fato não estou sozinha com isso, e que vivemos coisas parecidas. E tudo foi lindo, mágico, me vi em outros, comecei tantas coisas para melhorar meu vício, meu transtorno obsessivo compulsivo, mas abandonei. Tenho tendência a fazer isso com as coisas.

E ontem sofri a maior recaída nos últimos 4 anos. Foi então que hoje, as 7:15 da manhã no meio do metrô decidi escrever sobre. Está super divertido as pessoas me encarando enquanto choro silenciosamente e digito incontrolavelmente esse texto. 

E por que eu decidi falar sobre?

Isso está me consumindo desde os meus 10 anos, ou seja, ano que vem ele já pode ganhar uma festa de 15 anos que não tenho vontade de bancar, e acredito que todos tenham os seus problemas da forma que eles se apresentem e pelo tempo que eles decidem permanecer.

É difícil encontrar coragem para desabafar sobre as coisas ruins que enfrentamos, mas eu não acho justo que as pessoas tenham que lidar com elas sozinhas. Não sei porque demorei 14 anos para perceber isso, para os outros podem levar menos tempo ou mais, não sei, não interessa. 

Só acho importante que você tente se aceitar, mesmo quando o mundo tenta fazer de tudo para te colocar para baixo, você pode lutar suas próprias batalhas, mas não precisa fazer isso só. Definitivamente existem pessoas do seu lado que estão dispostas a te ouvir e a te ajudar da forma que é possível para elas. 

Eu preciso de ajuda, sempre precisei, mas nunca tive coragem de gritar isso. Ainda não tenho forças para dizer ao mundo o que é, veja que comentei sobre conversar com os amigos, o mundo não precisa saber. Já consegui desabafar sobre ter um problema. Vamos tentar dar um passo de cada vez, que tal?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Para Elise

Hey,


é estranho pensar que só retorno a esse blog de ano em ano e para atualizar o "Quem é Ren Kurisu?". O que aconteceu para eu começar a perder o interesse em fazer o que eu mais amava fazer: escrever? Não sei, as minhas intensas ideias enfraqueceram e eu estou buscando pelas palavras perfeitas novamente. O problema é que não as encontro.

Faço meu longo e esperado - nem tanto - retorno com uma carta para uma de minhas músicas favoritas: "Für Elise". Apertar o play é recomendável.





"Para Elise,

Lembro do dia em que te conheci como se fosse hoje ao olhar pela janela marcada pelas gotas de chuva. Apesar das condições climáticas serem bem similares, o ambiente estava carregado de uma onda muito mais viva. Percebi que éramos parecidas e opostas porque enquanto você não combinava com a chuva, eu certamente nasci para me molhar.

Ao ser apresentada a você percebi que tenho o costume de deixar minhas emoções rapidamente tomarem conta de mim. Naquela época eu nunca havia me sentindo dessa forma. Foi por sua causa que aprendi a amar. Na verdade, eu me deixei ser amada. Estranho, não? 

É que na hora que prestei atenção de verdade em você, vi meus medos, minhas inseguranças e minha baixa auto-estima indo embora com uma rapidez nunca antes vista. Te conhecer foi libertador porque me entreguei por completo ao meu primeiro banho de chuva. Rodei, deixei o cabelo cair no rosto, parecia a criança que eu era antes de tudo ficar complicado.

Naquela hora não havia complicação, era eu, você e a chuva. Sem julgamentos. Passada a euforia ao embarcar no desconhecido, senti minha alma ficando cada vez mais leve, calma. Até que voltei a te observar.

Uma dor sem igual começou a dominar meu corpo porque no fundo você era nada menos que temporária.

E assim como tudo, no fim você acabou me deixando sozinha - o que certamente só um completo maluco faria e sua cabeça já era questionável - e constantemente retorno para aquele breve momento porque tudo fica mais claro e a sanidade permanece.

Foram três minutos que ficarão marcados em mim para sempre e você ter ido embora abruptamente só ajudou a eternizar de vez o que era liberdade e dor. Você foi tempestade na mente de uma garota que tudo queria era apreciar o clássico".

Um beijo, um abraço, um olhar 43,

Ren K.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Quase um ano sem aparecer por aqui. Nenhum grande choque, certo? Ando sofrendo de insônia novamente e acabei escrevendo umas bobeiras que decidi compartilhar aqui.


Para algumas pessoas sonhar é algo muito bom mas para mim é um inferno. Nem lembro quando foi a última vez que eu dormi direito ou ainda, que eu tenha tido vontade de fechar os olhos e dormir. Meus sonhos nunca foram bons. Desde que eu consigo lembrar nunca tive um sonho daqueles que te deixam feliz ou sonhos sem sentido que te façam rir quando você lembra deles.
Meus sonhos sempre foram pesadelos ou o anúncio de que algo ruim iria acontecer. Todos os dias eu ia para a cama o mais tarde possível, e isso não significava que assim que apoiasse minha cabeça no travesseiro eu iria ser capaz de cair no sono. Geralmente passava as noites em claro pois se eu acabasse dormindo era certo que me arrependeria. O Senhor dos Sonhos aparentemente não ia lá com minha cara e eu sofria as consequências disso.
A verdade é que tudo mudou. Faz duas noites que eu tenho deitado e dormido bem sem acordar e ter a sensação de que um caminhão passou por cima de mim e sem sonhos  para me atormentar. Esse é o problema: sem sonhos.
Mesmo que eu acabasse cochilando por 10 minutos, eu eventualmente acabaria sonhando mas nunca sofri esse branco. 
Estou preocupada.  Será que é o começo do meu fim? Não sonhar é uma reação não esperada. Sabe o que dizem: quando coisas estranhas começam a acontecer com o seu cérebro é porque você está prestes a morrer. 

É isso.

Até um próximo momento,

Ren K.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Hey,

meu amigo fez um texto cujo personagem central era Deus. Quer ler? Aqui: Kitsch e decidi então fazer um texto com Deus também. O que a falta de criatividade não faz? Eu não consegui criar o final que eu tinha pensado antes porque eu esqueci qual era o final....

Quando estava para fazer 10 anos eu conheci Deus. Foi intencional, procurei por ele em todos os cantos, esquinas e pensamentos. Estranho, pois acabei o conhecendo em um sonho. Procurei Deus para fazer uma única pergunta:

- Por que meu avô não vem mais me ver?

Ele sorriu, de um jeito triste, mas deu aquele sorrisinho que de alguma forma não me deixou muito animada. Com uma voz grossa e ao mesmo tempo suave ele me respondeu.

- Seu avô não mais pertence a esse mundo.

- Eu sei disso faz 3 anos, mas mesmo depois que ele morreu, ele continuava vindo me ver.

- Ele ainda estava muito preso a esse lugar, preso a você, mas eu tive que levá-lo.

Acredito que esse foi o dia em que minha relação com Deus foi abalada.

- Você o levou de novo! Não tem pena de mim?

- Sinto sua dor, mas acredite quando eu digo que ela vai aumentar a partir de hoje. Você vai ter que enfrentar um novo desafio que vai surgir. Seja forte.

E Deus foi embora, me deixando sozinha com a minha, até então, adormecida loucura.

Aos 15 anos, ainda passando pelo desafio que Deus tinha citado, me desesperei.

- PUTA QUE PARIU! Por que faz isso comigo?

E notei Deus sentado ao pé de minha cama. Ele estava diferente. Há cinco anos atrás ele era branco, barbudo, velhinho, de veste longa e branca, muito iluminado. Sentado ali, estava um Deus de aparência irônica. Aparentava 27 anos, estava de calça jeans, blusa azul xadrez e tinha um olhar sarcástico no rosto.

- Você cresceu, amadureceu com a dor, mas ainda tem uma cabeça de criança.
Não estava com saco para rodeios.

- Por que você mudou?

- Existe e não existe só um Deus. Nossa mente está ligada, sabemos as mesmas coisas, o que muda é que uns são bons e outros não. Aparecemos conforme a vida e os problemas dos homens.

- Por que estou sofrendo?

- Essa resposta eu não posso te dar.

- Então, por que eu?

- Porque todos passam por um tipo de provação. Saber se são capazes de superar tudo.

Novamente Deus foi embora. Aparentemente eu não sou capaz de superar nada, já que o problema piorou. Deus parou de passar pela minha cabeça e só lembrava dele quando ia rezar pela alma de meu avô.

Um mês depois de ter feito 20 anos, estava no ônibus voltando da faculdade, quando eu senti me cutucarem. Era Deus. Temi por minha vida naquele momento, Deus estava me stalkeando e da maneira mais assustadora possível.

Ao meu lado estava uma menina de 7 anos. Até aí, tudo estaria bem se ela não fosse eu. Como se tivesse lido meus pensamentos e com certeza Deus tem essa capacidade, ela logo falou:

- E Deus fez o homem à sua imagem e semelhança.

- Decidiu então me atormentar com a minha aparência?

- Não vim fazer isso. Estou aqui para falar que a hora chegou.

- Vou morrer?

- Não e sim.

- Estou ficando cansada desses joguinhos.

- Você não vai morrer, mas assim como seu nome, você vai nascer de novo. Está na hora desse seu problema acabar, faz 10 anos e você ainda está se escondendo. Aquela felicidade que você tinha foi tomada pelas trevas. Acorde para o mundo, porque você está se atrasando.

E assim, com essa última frase, Deus foi embora. Foi aí que percebi que esse seria o único conselho que Deus me dera que eu ia de fato seguir. Eu me vi chorando dentro do ônibus. Estava na hora de acabar com minha maldição. Estava na hora de parar de me esconder atrás de leves maquiagens, sorrisos falsos, roupas estilo tomboy e ao mesmo tempo de bonequinha. Estava na hora de parar de me esconder atrás de livros e boinas.

Estava na hora de renascer. Tive medo.

Uma última vez eu chamei por ele.

- Deus o que vai acontecer comigo a partir de agora?

Não fui respondida, não sabia o que ia acontecer comigo e gritei quando vi que uma luz estava saindo de mim. Minhas últimas palavras foram um pouco desrespeitosas:

- Maldito. Sou sempre eu que me ferro.

Beijos,

Ren K.